quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Pregador do Papa: “A resposta cristã ao racionalismo”

Terceira meditação do Pe. Cantalamessa diante do Papa e da Cúria Romana
CIDADE DO VATICANO, domingo, 19 de dezembro de 2010 (ZENIT.org)  – Publicamos a terceira meditação do Advento do Pe. Raniero  Cantalamessa OFM cap, pregador da Casa Pontifícia, pronunciada na  sexta-feira passada, diante de Bento XVI e da Cúria Romana.

Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap.
3ª Pregação do Advento
“ESTAI SEMPRE PRONTOS A DAR A RAZÃO DA VOSSA ESPERANÇA.” (1 Pe 3,15)
A resposta cristã ao racionalismo 

1. A razão usurpadora
             O terceiro obstáculo que faz parte da cultura moderna, “refratária” ao  Evangelho, é o racionalismo. Sobre isso falaremos nesta última meditação  do Advento.
             O cardeal e, agora, Beato John Henry Newman,  deixou-nos um discurso memorável, proferido em 11 de dezembro de 1831,  na Universidade de Oxford, intitulado The Usurpation of Raison, a usurpação ou a prevaricação da razão. Neste título já está a definição do que entendemos como racionalismo.  Numa nota explicativa a este discurso, escrita no prefácio à sua  terceira edição, de 1871, o autor explica o que quer dizer com esse  termo. Por usurpação da razão – diz – se entende “certo abuso  generalizado dessa faculdade quando se fala de religião sem um  conhecimento íntimo ou sem o respeito devido aos princípios fundamentais  desta. Essa ‘razão’ é chamada ‘sabedoria do mundo’ nas Escrituras é a  compreensão de religião dos que têm a mentalidade secularista e se  baseiam em máximas do mundo, que lhes são intrinsecamente alheias”.
             Em outro de seus sermões na universidade, intitulado “Fé e Razão  comparadas”, Newman ilustra por que a razão não pode ser o juiz supremo  em matéria de religião e de fé, com a analogia da consciência:
“Ninguém – escreve – dirá que a consciência se opõe à razão, ou que seus  preceitos não podem ser apresentados em forma de argumento; no entanto,  quem, a partir disso, argumentará que a consciência não é um princípio  original, mas que, para atuar, precisa atender o resultado de um  processo lógico-racional? A razão analisa os fundamentos e os motivos da  ação, sem ser ela mesma um destes motivos. Portanto, a consciência é um  elemento simples da nossa natureza e, no entanto, suas operações  admitem ser justificadas pela razão, sem com isso depender realmente  dela [...]. Quando se diz que o Evangelho exige  uma fé racional,  pretende-se dizer somente que a fé concorda com a reta razão em  abstrato, mas não que seja realmente seu resultado”.
                 Uma  segunda analogia é a da arte. “O crítico de arte – escreve – avalia o  que ele mesmo não sabe criar, assim também a razão pode dar sua  aprovação ao ato da fé, sem por isso ser a fonte da qual a fé emana”.
                A análise de Newman possui recursos novos e originais; destaca a  tendência, imperialista, por assim dizer, da razão a submeter todo  aspecto da realidade aos próprios princípios. É possível, entretanto,  considerar o racionalismo ainda de um outro ponto de vista, intimamente  ligado ao anterior. Para ficar na metáfora política empregada por  Newman, podemos definir como atitude de isolamento, de fechar-se a essa  mesma razão. Isso não consiste tanto em invadir o campo de outros, mas  em não reconhecer a existência de outro campo fora do seu próprio. Em  outras palavras, na negação de que possa haver verdade fora da que passa  através da razão humana.
               Desse modo,o racionalismo não nasceu  com o iluminismo. É uma tendência contra a qual a fé  sempre teve de  lidar. Não só a fé cristã, mas também a hebraica e a islâmica, pelo  menos na IdadeMédia, conheceram esse desafio.
Contra essa  afirmação de absolutismo da razão, levantose em cada época a voz não só  de homens de fé, mas também de militantes no campo da razão, filosofia e  ciência. “O ato supremo da razão, escreveu Pascal, está em reconhecer  que existe uma infinidade de coisas que a sobrepassam.” No mesmo instante em que a razão reconhece seu limite, ela o rompe e o  supera. É por obra da razão que se produz este reconhecimento que é, por  isso, um ato puramente racional. Essa é, literalmente, uma “douta  ignorância”. Um ignorar “com conhecimento de causa”, sabendo que se está ignorando.
              Devemos,  portanto, dizer que estabelece um limite para a razão e a humilha  aquele que não reconhece nela esta capacidade de transcender-se. “Até  agora, escreveu Kierkegaard, sempre se falou assim: ‘Dizer que não se  pode entender esta coisa ou aquela não satisfaz a ciência que deseja  conhecer’. Esse é o erro. É preciso dizer exatamente o oposto: onde a  ciência humana não quer reconhecer que há algo que ela não pode  compreender ou – ainda mais preciso – qualquer coisa que da qual a  ciência, pode entender com clareza ‘que não pode entender’, então tudo  estará desordenado. É, portanto, uma tarefa do conhecimento humano  compreender que existem essas coisas e quais são essas coisas que ela  não pode compreender.”

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Seminaristas reunidos no XXXI Renasem

Participantes do RENASEM - 2011
No centro, Diego Platini, Coord. RENASEM da Diocese de Janaúba
   Desde a noite do dia 10 de janeiro, 150 seminaristas e 20 padres de todo o Brasil estão reunidos em Brasília/DF para o Retiro Nacional de Seminaristas.
       O Renasem é promovido RCC, através do Ministério para Seminaristas, e tem por objetivo fomentar nos Seminaristas Diocesanos e Religiosos provenientes dos vários Grupos de Oração e Novas Comunidades do Brasil a espiritualidade que despertou suas vocações, conforme instrução da Exortação Apostólica Pastoris Dabo Vobis 68.
        Motivados pelo tema do ano da RCC em 2011“Por causa de Tua Palavra, lançaremos as redes” ( Lc 5,5), pelos apelos da Igreja do Brasil e pelas orientações do Documento de Aparecida, a programação  prevê uma ação missionária em uma Paróquia da Arquidiocese de Brasília.

Uma resposta cristã ao cientifismo ateu

 

Apresentamos a primeira pregação do Advento pronunciada pelo pregador da Casa Pontifícia, Pe. Raniero Cantalamessa, OFMCap, diante do papa Bento XVI e da cúria romana, sobre "A resposta cristã ao cientificismo ateu".
"Quando olho para o teu céu, obra de tuas mãos, vejo a lua e as estrelas que criaste: Que coisa é o homem?" (Sl 8, 4s)
1. A tese do cientificismo ateu
As três meditações deste Advento 2010 querem ser uma pequena contribuição à necessidade da Igreja que levou o Santo Padre Bento XVI a instituir o Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização e escolher este tema para a próxima Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos: Nova evangelizatio ad cristianam fidem tradendam - A nova evangelização para a transmissão da fé cristã.
A intenção é identificar alguns "nós" ou obstáculos que fazem muitos países de antiga tradição cristã "refratários" à mensagem do Evangelho, como diz o Santo Padre no Motu Proprio com o qual estabeleceu o novo Conselho [1]. Os "nós" ou os desafios que eu pretendo levar em consideração e aos quais eu gostaria de tentar dar uma resposta de fé são o cientificismo, o secularismo e o racionalismo. O apóstolo Paulo classifica esses desafios como "as muralhas e fortalezas que se levantam contra o conhecimento de Deus" (cf. 2Cor 10, 4).
Nesta primeira meditação examinemos o cientificismo. Para compreender o que se entende com este termo podemos começar pela descrição feita por João Paulo II:
"Outro perigo a ser considerado é o cientificismo. Esta concepção filosófica recusa-se a admitir, como válidas, formas de conhecimento distintas daquelas que são próprias das ciências positivas, relegando para o âmbito da pura imaginação tanto o conhecimento religioso e teológico, como o saber ético e estético." [2].

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

CRISTIANISMO: A VITÓRIA DA INTELIGÊNCIA SOBRE O MUNDO DAS RELIGIÕES

Joseph Ratzinger
Tradução encontrada em  http://www.angelfire.com/ult/bentoxvi da conferência ministrada
na Sorbona de Paris no dia 27 de novembro de 1999. Confira o mesmo endereço para outras
traduções inéditas.
Ao final do segundo milênio, o cristianismo encontra-se, no próprio lugar da sua difusão originária, na Europa, em crise profunda, baseada na crise da sua pretensão à verdade. Esta crise
tem uma dupla dimensão: em primeiro lugar, perguntam-nos com insistência cada vez maior se
é certo, no fundo, aplicar a noção de verdade à  religião; em outras palavras, se é dado ao homem conhecer a verdade propriamente dita sobre Deus e as coisas divinas. O homem contemporâneo reconhece-se muito melhor na parábola budista do elefante e dos cegos: uma vez, um
rei da Índia do Norte reuniu num lugar todos os habitantes cegos da cidade. Em seguida fez
passar um elefante diante deles. Deixou que uns tocassem na cabeça, e disse: «Um elefante é
assim». Outros puderam tocar na orelha ou na presa, na tromba, nas costas, na perna, no traseiro, nos pelos da cauda. Depois disso, o rei perguntou a cada um deles: «Como é um elefante?».
E, conforme a parte que tivessem tocado, respondiam: «É como uma cesta trançada...», «é como um vaso...», «é como o cabo de um arado...», «é como um depósito...», «é como uma coluna...», «é como um morteiro...», «é como uma escova...». Então - continua a parábola – come-
çaram a discutir, aos berros: «O elefante é assim», «não, é assim», se atiraram uns sobre os outros e trocaram pancadas, para grande divertimento do rei. A disputa entre as religiões parece
aos homens de hoje como essa disputa entre cegos de nascença. Porque diante do mistério de
Deus nascemos cegos, ao que parece. Para o pensamento contemporâneo, o cristianismo não se
acha absolutamente numa situação mais favorável em relação às outras religiões, pelo contrário:
com a sua pretensão à verdade, parece ser particularmente cego diante do limite de todo nosso
conhecimento do divino, caracterizado por um fanatismo particularmente insensato, que incorrigivelmente toma pelo todo a parte tocada na sua própria experiência.
Esse ceticismo generalizado em relação à pretensão à verdade em matéria religiosa é ulteriormente reforçado pelas questões que a ciência moderna levantou no que se refere às origens e
aos conteúdos do cristianismo. A teoria da evolução parece ter superado a doutrina da criação,
os conhecimentos que se referem à origem do homem parecem ter superado a doutrina do pecado original; a crítica exegética relativiza a figura de Jesus e coloca pontos de interrogação sobre
a sua consciência filial; a origem da Igreja em Jesus parece duvidosa, e assim por diante. O
"fim da metafísica" tornou problemático o fundamento filosófico do cristianismo, os métodos
históricos modernos colocaram as suas bases históricas sob uma luz ambígua. Assim, é fácil
reduzir os conteúdos cristãos a símbolos, não lhes atribuir nenhuma verdade maior do que a dos
mitos da história das religiões, considerá-los uma modalidade de experiência religiosa que deveria colocar-se humildemente ao lado das outras. Neste sentido, pode-se ainda - ao que parece
– permanecer cristão; continuamos a nos servir das formas expressivas do cristianismo, cuja
pretensão, porém, é radicalmente transformada:  aquela verdade que fora para o homem uma
força imperiosa e uma promessa confiável passa a ser uma expressão cultural da sensibilidade
religiosa geral, expressão que seria óbvia para nós em razão da nossa origem européia.

Leia mais: http://padrepauloricardo.org/wpcontent/files_mf/1272102365A_vitoria_da_inteligencia_sobre_omundo_das_religioes.pdf

Todo cristão deveria ser místico, assegura Papa

O conhecimento e a experiência mística de Deus não são privilégios reservados a pessoas excepcionais, mas a todo batizado, segundo afirmou hoje o Papa Bento XVI durante a audiência geral, realizada na Sala Paulo VI.

O Papa, continuando com suas catequeses sobre grandes escritores cristãos do primeiro milênio, falou sobre Simeão o Novo Teólogo (949-1022), um escritor pouco conhecido no Ocidente, mas muito querido pela Igreja Ortodoxa.
Esta foi a quarta vez que o Papa se referiu a um santo muito estimado pelas Igrejas Orientais, após suas catequeses sobre São João Damasceno, os santos Cirilo e Metódio e Germano de Constantinopla.
Um dos que nos últimos anos escreveu sobre ele é o bispo Hilarion de Volokolamsk, presidente do Departamento para as Relações Eclesiásticas Externas do Patriarcado de Moscou.
De fato, o título de “Teólogo” lhe foi conferido pela igreja oriental, que só reconhece este título a outros dois santos: São João Evangelista e São Gregório Nazianzeno, como recordou o Papa durante a catequese de hoje.
Este santo, explicou o Papa, “concentra sua reflexão na presença do Espírito Santo nos batizados e na consciência que devem ter dessa realidade espiritual”.
Simeão “insiste no fato de que o verdadeiro conhecimento de Deus não vem dos livros, mas da experiência espiritual”, através de um caminho de purificação interior, “que começa com a conversão do coração, graças à força da fé e do amor”.
Para o santo, “semelhante experiência da graça divina não constitui um dom excepcional para alguns místicos, mas é fruto do Batismo na existência de todo fiel seriamente comprometido”, sublinhou o Papa.
Bento XVI convidou todos os batizados a refletirem sobre o convite que este santo oriental faz “à atenção à vida espiritual, à presença escondida de Deus em nós, à sinceridade da consciência e à purificação, à conversão do coração”.
“Se, de fato, nós nos preocupamos justamente por cuidar do nosso crescimento físico, é ainda mais importante não descuidar do crescimento interior, que consiste no conhecimento de Deus”, acrescentou.
O Papa relatou uma das experiências místicas de Simeão, que acabou por assegurar-se de que Jesus estava nele ao advertir um amor imenso pelos demais, inclusive por seus inimigos.
“Evidentemente, semelhante amor não poderia vir dele mesmo, mas deveria brotar de outra fonte. Simeão entendeu que procedia de Cristo presente nele e tudo se esclareceu: teve a prova segura de que a fonte do amor nele era a presença de Cristo.”
“Queridos amigos: esta experiência é muito importante para nós, hoje, para encontrar os critérios que nos indicam se estamos realmente perto de Deus, se Deus existe e vive em nós”, explicou o Papa aos presentes.
“Somente o amor divino nos faz abrir o coração aos demais e nos torna sensíveis às suas necessidades, fazendo-nos considerar todos como irmãos e irmãs e convidando-nos a responder com amor ao ódio e com perdão à ofensa.”
Mística para todos
Simeão o Novo Teólogo nasceu em Galácia (Ásia Menor) e morreu no mosteiro de Santa Macrina. Educado para seguir a carreira na corte do imperador, em Constantinopla, suas inquietudes e experiências místicas o levaram a ingressar no mosteiro Studion.
Ele é considerado um dos maiores representantes do pensamento hesicasta, tradição ascética muito forte na Igreja Oriental e Ortodoxa, que se relaciona com os antigos Padres do deserto, especialmente Macário do Egito e Diádoco de Fótice, que insistem na experiência pessoal de Deus na própria vida.

Cavaleiros do Santo Sepulcro doam 10,7 milhões de dólares à Terra Santa


dez 14, 2010 Autor: admin | Postado em: Igreja
Cardeal Foley exorta fiéis a enviar cartões de Natal ao Papa
LONDRES, terça-feira, 14 de dezembro de 2010 (ZENIT.org) – No último ano, os membros da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém enviaram quase 11 milhões de dólares em donativos à Terra Santa.
Essa notícia foi referida pelo cardeal  John P. Foley, grão-mestre da Ordem, no dia 4 de dezembro, em Londres, durante um encontro sobre os projetos que a organização está apoiando.
O purpurado salientou o compromisso da Ordem “para que a presença cristã continue existindo na Terra Santa, definida como Israel, Jordânia, Territórios Palestinos e Chipre”.
Uma parte deste financiamento ajudou a apoiar a visita do Papa bento XVI a Chipre de 4 a 6 de junho. As doações também vão colaborar na construção de uma igreja católica latina em Aqaba (Jordânia).
O cardeal falou dos planos para projetos futuros, como a construção de uma igreja na atual Jordânia, sobre o Batismo de Jesus. Junto à igreja se construirão também um convento, um mosteiro e um centro para visitantes.
Ele também se referiu ao projeto de construir uma universidade em Madaba, Jordânia. A primeira pedra do instituto foi abençoada pelo Papa no ano passado, durante sua visita à Terra Santa.
Dom Foley lembrou que teve a possibilidade de participar da Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos no passado mês de outubro, em Roma. Naquela ocasião, observou a necessidade de apoiar a educação católica na Terra Santa.
Depois, apontou aos membros da Ordem um projeto em particular chamado “Um notebook para uma criança”, que pretende ajudar a oferecer aos estudantes das escolas católicas os benefícios da informática.
No mesmo dia, na catedral de Southwark, o purpurado pronunciou a homilia durante uma missa de investidura para os novos membros da Ordem, observando as normas da organização: auxiliar os mais fracos e necessitados, trabalhar pela justiça e a paz, defender os lugares santos.
“Ser um cavaleiro ou uma dama do Santo Sepulcro de Jerusalém é verdadeiramente uma vocação”, afirmou. “Uma vocação a progredir na santidade, uma vocação a animar e a ajudar os descendentes dos primeiros seguidores de Jesus Cristo nessa terra feita realmente santa por sua vida, morte e ressurreição, uma vocação à proclamação na Terra Santa, em nosso ambiente e no mundo inteiro”.
O cardeal exortou os novos membros a seguir o exemplo do Beato John Henry Newman, que “encarnou os ideais de nossa Ordem  – a sede de santidade, o amor pelo Senhor e pela terra que o viu nascer”.
No domingo, 5 de dezembro, na catedral de Westminster, o cardeal Foley também exortou os católicos ingleses, durante a homilia, a “acolher a Cristo nos refugiados da Terra Santa e dessas nações no Oriente Médio, na qual os cristãos são perseguidos e realmente martirizados”.
“Acolham-no nos pobres, nas pessoas sozinhas e atribuladas que no Natal, talvez, se sintam mais sós que nunca. Acolham-no nesses membros da Comunhão anglicana que estão entrando em comunhão com a Igreja católica”, acrescentou.

Homilia sobre o PNDH-3


Fonte: Christo Nihil Praeponere
Homilia pronunciada no dia 31/01/2010, a respeito do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). O decreto pretende impor ao Estado e aos Brasileiros que nele atuam, políticas desumanas e incompatíveis com o cristianismo. Trata-se de um instrumento para a criação de uma “nomenklatura”, uma casta de dirigentes alinhada com a ideologia governante e que, na prática, exclui os verdadeiros cristãos do “apparat” de governo.
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Ano Novo e a Cultura de Pentecostes

Na visão de muitos antropólogos, o homem possui uma necessidade de viver em ciclos, com marcos que possam estabelecer noções de términos e reinícios. Na tradição da cultura ocidental, no entanto, o tempo apresenta-se de forma linear e momentos como a "passagem de ano", por exemplo, parecem sugerir espontaneamente um "recomeçar a vida", num esforço de manifestar esse desejo cíclico do ser humano.
A passagem de ano é um momento em que “fim e começo” parecem se tocar. Nesse momento há um despertar da esperança no homem, um desejo de recomeçar a vida, os projetos, os sonhos. O clima celebrativo e de forte conotação emotiva tem conotação mágica. É em meio à necessidade de fazer uma revisão da etapa anterior e da prospectiva da etapa seguinte, e envolvidos por votos de felicidade, paz, amor etc., que surgem as promessas: eu prometo que este ano vou deixar este vício, emagrecer, estudar, economizar mais, vou ser melhor, vou rezar mais, amar mais, e por aí vai...  Poderíamos chamar isso de síndrome de fim de ano. 
 
Esse assunto é tão presente no comportamento da sociedade, atualmente, que diversos programadores desenvolveram sites que pudessem "ajudar" as pessoas a decidirem sobre suas novas promessas... O psicólogo britânico Richard Wiseman realizou uma pesquisa sobre essas promessas de final de ano e sugere que apenas 10% das pessoas conseguem cumprir com as resoluções definidas no fim do ano. Não obstante, as promessas, novas ou renovadas, continuam sendo feitas. As promessas humanas parecem ser tão duráveis quanto o som e o brilho dos fogos.  As explosões dos “fogos” no céu acabam se tornando testemunhas de promessas humanas que cairão no esquecimento e não conseguirão ser cumpridas.
 
Mas, e nós, carismáticos, às portas de um novo ano que surge e envolvidos pelo desejo de moldar a Cultura de Pentecostes em nosso tempo, qual deve ser a nossa atitude nesse momento tão significativo para a sociedade ocidental? 
 
Fazer “promessa” ou permitir que a promessa se cumpra?
 
O verbo latino promittere (prometer) significa pro= à frente + mittere= enviar, mandar, emitir. Nesse sentido, pode-se traduzir como "enviar adiante, mandar à frente", ou ainda "levar a esperar".  Prometer é comprometer-se a dar mais tarde. Diante de um grande desejo, a promessa "dá esperança" e propõe um compromisso.
Na Bíblia encontram-se mais de 8,5 mil promessas, sendo que aproximadamente 85% dessas promessas são feitas pelo próprio Deus ao homem. Cerca de mil promessas encontradas na Bíblia são feitas de uma pessoa para a outra. Há promessas feitas do homem a Deus, pelos anjos ao homem, de Jesus aos discípulos etc. Na verdade, podemos até nos referir à Bíblia como um livro de promessas e cumprimento. Muitas promessas cumpridas, outras se cumprindo atualmente e, ainda, outras que se cumprirão a seu devido tempo.
O Magistério nos ensina que "em várias circunstâncias, o cristão é convidado a fazer promessas a Deus. O Batismo e a Confirmação, o Matrimônio e a Ordenação sempre as contêm. Por devoção pessoal, o cristão pode também prometer a Deus este ou aquele ato, oração, esmola, peregrinação etc." (Catecismo 2101).
Para uma autêntica Cultura de Pentecostes na qual os comportamentos são resultantes de uma vida no Espírito, somos convidados a ter atitudes novas, também e especialmente num momento tão celebrativo e significativo como a passagem de ano. No entanto, ao invés de formular novas promessas fundadas no forte impacto emocional do momento, não seria uma nova e bela atitude comprometer-se em assumir as promessas, profecias e direcionamentos dados por Deus a nós? Esse não seria um momento propício para dizer aquele faça-se em mim segundo a Tua Palavra como fez Maria, Mãe de Jesus? Aliás, o dia 1º de janeiro, dia da Santa Mãe de Deus, oferece-nos a oportunidade de recordar-nos daquela que não se preocupou em fazer promessa, mas que permitiu em sua vida a realização da Promessa esperada desde a antiguidade!
Esta é uma boa hora para dizer "Sim!". Sim aos planos de Deus, e não às nossas vaidades e projetos pessoais. Sim à Palavra de Deus que pode gerar em nós a Vida nova, tão desejada nesse momento! Sim ao Amor de Deus que nos transforma para sermos pessoas melhores, mais humanas, mais santas!
Enquanto as luzes dos fogos iluminam a noite, aqueles que assumem o batismo no Espírito Santo deveriam trazer consigo o desejo de terem suas almas iluminadas pelo Espírito de Deus. Devem cantar "a nós descei, Divina Luz!", como quem reconhece a necessidade da claridade divina para não cair nas trevas do pecado. Deve-se reconhecer a necessidade da graça de Deus para se conseguir cumprir a própria vocação durante todo o novo ano, pois a graça de Deus nunca passará.
Compromisso com a Cultura de PentecostesPara dar forma à Cultura de Pentecostes, a nossa principal missão é "tornar o Espírito Santo conhecido e amado", segundo a orientação de João Paulo II. Da Renovação Carismática Católica não se deve esperar promessas, mas adesão às promessas de Deus! Atitudes de colaboração para a concretização das promessas de Deus em nosso tempo. "Derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo" (Jl 3,1). No coração de cada carismático, o réveillon deve configurar-se como um Novo Pentecostes. É uma excelente hora para apresentar os melhores frutos de evangelização do ano que terminou e aproveitar para encher as mãos de novas sementes da Palavra para serem lançadas, ao longo do ano, em cada canto de nosso país. E aqueles que não "apanharam nada durante o ano todo" devem dizer como Pedro a Jesus: "Confiantes na Tua Palavra, lançaremos a rede!" novamente (Lc 5,5).
Recomeçar, reconstruir!Para a atualização da Cultura de Pentecostes necessitamos de testemunhas autênticas. Temos como primeiro e mais perfeito modelo de testemunha, Maria, Mãe de Jesus. Ela é testemunha do nascimento, do ministério, morte e ressurreição de Jesus. É testemunha de Jesus e é também testemunha do Espírito Santo. Foi por meio do Espírito que Maria concebeu, e quando Ele se manifestou no dia de Pentecostes ela estava lá com os discípulos. Maria torna-se o protótipo da Cultura de Pentecostes.
Hoje, como "participantes da promessa em Jesus Cristo pelo Evangelho" (Ef 3,6), enquanto nos despedimos de um ano que entrará para a história da RCC pelo tanto de promessas de Deus realizadas na vida desse Movimento, tornamo-nos testemunhas oculares e ativas de tão grande e atual graça. Mais do que fazer novas promessas, devemos continuar assumindo o compromisso de sermos protagonistas para a civilização do amor, que somente poderá ser fecundada por meio da Cultura de Pentecostes estabelecida em nosso tempo.
Que Maria nos ensine a dizer Sim e a fazer tudo o que Jesus nos disser, neste novo ano!
Rogério SoaresCoordenador do Grupo de Reflexão Teológica da RCCBRASIL